Apresentação



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       PALESTRA SOBRE A OBRA S. BERNARDO NA  PROFERIDA PELA PROFª VERA DIAS PARA AS TURMAS DE GRADUAÇÃO EM LETRAS DA DISCIPLINA DO PROFº GODOFREDO DE OLIVEIRA NETO  NA UFRJ 
DIA : QUINTA-FEIRA - 13/08/2018: CLIQUE AQUI

Como Conheci o Velho Graça
Profª Vera Lúcia L. Dias
"Afirmava-me não ser difícil percorrermos um texto, apreendendo a essência e largando o pormenor. Isso me desagradava. São as minúcias que me prendem, fixo-me nelas, utilizo insignificâncias na demorada construção das minhas histórias. Aquele entendimento rápido, afeito a saltos vertiginosos e complicadas viagens, contrastava com as minhas pequeninas habilidades que pezunhavam longas horas na redação de um período. Julguei Sérgio isento de emoção, e isto me aterrou. Comovo-me em excesso, por natureza, e por ofício, acho medonho alguém viver sem paixões."
(Graciliano Ramos - Memórias do Cárcere)

Nota da Profª Vera Dias : Esse livro, Memórias do Cárcere, de onde extraí a frase que para mim é uma das mais lindas e emblemáticas de Graciliano Ramos, demonstra que o escritor considerava a paixão uma necessidade vital. Ela está presente nesse blog em formato PDF para todos lerem. Basta acessarem a postagem Obras, Traduções, Publicações e Prêmios.


    Existem momentos em nossa vida de leitor que são inesquecíveis. Um desses momentos é quando lemos um livro que nos emociona e deixa marcas em nosso espírito. Foi assim com "Vidas Secas" de Graciliano Ramos, que travei contato pela primeira vez quando estava no Ensino Médio. Apaixonei-me pela cachorra Baleia e pelos filhos mais velho e o mais novo da obra. A ponto de ilustrar meu caderno com desenho dos personagens.
     Mas devo confessar: no início, quando a professora citou o título me assustei. Lembro-me  que ele parecia um tanto cinza como a cidade em uma obra que tem um cenário marrom-avermelhado como o sertão e que reproduzi no cabeçalho desse blog. E quanto ao personagem principal, Fabiano, pareceu-me apresentar contradições em algumas partes. Como poderia um sujeito demasiado ignorante a ponto de mal conseguir falar,  articular alguns pensamentos e reflexões que não condiziam com seu nível de compreensão e discernimento próprios.
    Que me perdoem os críticos catedráticos que o amam, mas é inverossímil que uma pessoa falasse assim. Participei uma vez como professora de língua portuguesa de um programa para educação de jovens e adultos (EJA) e todos os alunos que conheci e que ensinei a fazer uma redação correta, mesmo os mais inteligentes, jamais conseguiram passar para o papel num português de primeira, com coesão e coerência, seus pensamentos. Foram precisos meses de treinamento para que eles conseguissem escrever um texto decente.
   Sem dúvida, desde a minha adolescência, considerei que o autor conseguiu criar um ótimo personagem, no entanto o colocou numa posição questionável como esta. E nunca esqueci que deixei minha professora de Língua Portuguesa sem graça durante uma roda de leitura ao criticá-lo dessa forma. Anos mais tarde, já na universidade cursando Letras, meu professor de Literatura, ouviu pacientemente minha crítica e me deu uma resposta que nunca esqueci, pois ela me fez mudar de água para o vinho minha relação de implicância com a obra. Eis a resposta : "Vera, você está esquecendo uma coisa importante : O Graciliano está refletindo e pondo seus pensamentos na cabeça do Fabiano. O objetivo dele não foi apenas mostrar um nordestino rude, ignorante, oprimido. Ele tinha de alguma forma de denunciar ao leitor as injustiças sociais de que Fabiano era vítima. Veja além da fala do personagem. Considere também o ambiente ao redor dele."
    Foi como se uma luz tivesse se acendido no meu cérebro. Eu estivera focando demais nas incongruências dos personagens e me esquecendo que o objetivo da obra era bem outro : mostrar a desumanização que a seca promove nos mesmos, cuja expressão verbal é tão estéril quanto o solo castigado da região. A miséria causada pela seca, como elemento natural, soma-se à miséria imposta pela influência social, representada pela exploração dos ricos proprietários da região. E assim, a partir da leitura dessa obra, aprendi com esse meu brilhante e competente professor a fazer um verdadeiro exercício de análise crítica, que infelizmente não tivera a oportunidade de realizar antes, no Ensino Médio, talvez por incapacidade da minha professora na época. Nos anos sessenta, a preocupação dos professores era a de enfatizar aspectos da leitura e da escrita de modo a incutir nos alunos a norma culta da língua. A preocupação com a boa interpretação de um texto e de se ler nas entrelinhas começou a ser delineada na década de oitenta, quando eu adentrei os muros da UERJ:  cada vez mais, o ensino tornava-se menos normativo e, portanto, menos rigoroso, em relação aos padrões cultos da língua. Ensinar gramática passou a ser coisa ultrapassada. Em decorrência, o ensino de Português vem a configurar-se pela Teoria da Comunicação: o aluno passa a ter de ser capaz de “funcionar” como emissor e receptor de mensagens pela utilização de códigos verbais e não-verbais.
      E tudo começou a acontecer ao mesmo tempo: passei a ver as obras de Graciliano com outros olhos. Como  se fosse a raposa do conto do  Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry dizendo para o principezinho : "Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…".
     Assim fui cativada por Graciliano. Sucederam-se a leitura de outros livros e minha curiosidade pelo autor, o significado e abrangência de suas obras começaram a me fisgar devagarinho. Mais tarde também fui de certa forma infiel e tomei-me de amores por outro grande escritor, que foi Guimarães Rosa. Mas nunca esqueci meu primeiro amor da Literatura Clássica Brasileira. Tanto que costumava brincar com minhas alunas da disciplina de Literatura Brasileira do curso de Letras da UNESA dizendo que tinhas dois "namorados" , meus dois Gegês : Graciliano Ramos e Guimarães Rosa.
       E agora, prestes a voltar a cursar o doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), eis que me deparo com a oportunidade de reencontrar minha paixão estudando e desenvolvendo um projeto sobre um velho e querido autor.
       Esse blog foi construí com todo meu amor e carinho por um autor admirável que significou e continua sendo importante em minha vida. Espero que meus visitantes e queridas alunas também se apaixonem por ele !
         Sejam todos bem-vindos ao blog do escritor Graciliano Ramos !

       

Retrato de Graciliano Ramos, por Cândido Portinari (1952)


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