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Vidas Secas : O Livro que me Conquistou






A cabeça inclinada, o espinhaço curvo, agitava os braços para a direita e para a esquerda. Esses movimentos eram inúteis, mas o vaqueiro, o pai do vaqueiro, o avô e outros antepassados mais antigos haviam-se acostumado a percorrer veredas, afastando o mato com as mãos. E os filhos já começavam a reproduzir o gesto hereditário.”
(Graciliano, trecho extraído de Vidas Secas)


         Foi o livro "Vidas Secas", como já tive oportunidade de comentar na postagem "Apresentação", que me conquistou no Ensino Médio e com ele passei a amar Graciliano Ramos.
Houve um tempo que o nordestino era tão desvalorizado, tratado como se não valesse nada. As coisas hoje mudaram um pouquinho. Mas ainda persiste o preconceito.Eu sou suspeita pra falar, porque adoro o calor, as praias, o povo e a cultura do Nordeste… Mas vamos combinar: Vidas Secas é uma obra prima, que retrata a realidade nua e crua, capaz de fazer qualquer coração de pedra chorar com a morte de uma cadela. Graciliano Ramos é nordestino e escreveu o Nordeste, denunciou nossas mazelas e hoje usufruímos de diferenças que homens como ele lutaram para que tivéssemos, pois apesar da pobreza e a natureza, às vezes cruel, somos vistos e reconhecidos pela nossa música, literatura, política, diversidade e, acima de tudo, resiliência. É por essas e outras que devemos repeito à Vidas Secas: Uma obra circular, que faz todo o sentido se quisermos embaralhar os capítulos ou lê-los salteados. Aliás, cada capítulo pode ser lido independente dos outros e aí reside o gênio desse escritor. Essa é uma obra que, teoricamente, não tem fim. Esperamos que ela não morra, mas o fim dessa realidade, de um povo oprimido e vitimizado está cada vez mais próximo.

Em Vidas Secas, desde o primeiro capítulo, percebemos palavras duras como Infelizes, Famintos, Urubus, Espinhos, Catinga, Caatinga, Obstáculos e tantas outras expressões mostrando uma vida penosa e árida que aquela família de andarilhos enfrentava para correr do que não vinha muito atrás: Fabiano, sinha Vitória, seus dois filhos e a cachorra Baleia já estavam sendo consumidos pela fome, pela sede e os urubus sobrevoavam a região para se alimentar dos restos que a morte deixava.


A hostilidade do sertão fazia de Fabiano um bicho, por ora irracional, movido pelo instinto. “Caía no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara conta da casa deserta. Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura, pareciam ratos – e a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera.” (Pg 18). 


Enquanto Fabiano era um bicho, sinha Vitória resistia e sonhava em virar gente, gente que fosse respeitada e tivesse a dignidade de ao menos ter uma cama de couro como a do seu Tomás da Bolandeira. Enquanto isso, a cachorra Baleia mais parecia ter sentimento e sonhos, recebe mais destaque que os próprios filhos de Fabiano. A humanização de Baleia não pode ser vista de melhor maneira que no filme, Vidas Secas, onde a cachorra foi interpretada. A morte de Baleia mostra o quanto a cachorra sonha, raciocina e nega a morte, quando foge de Fabiano, que resolve sacrificá-la para que ela não sofra mais com a doença. 

Enquanto isso, sinhá Vitória tenta, do seu jeito, consolar os filhos que sofrem com a morte da companheira Baleia.Acredito que esta obra não é digna de ser lida na correria de uma preparação pro ENEM ou pelo Vestibular, nem precisa que nenhum professor obrigue ninguém a ler, como aconteceu comigo no Ensino Médio. Com maturidade, com mais anos vividos – um, dois ou dez – Vidas Secas será sempre presente na história do Nordeste e do país, deve ser lida com calma, com atenção. Com isso, todos os sentimentos devem ser experimentados, todas as lágrimas necessárias devem ser derramadas para que, por algumas horas, ou alguns dias, possamos fazer parte dessa peregrinação pelo sertão.










Livro: Vidas Secas – Graciliano Ramos

RESENHA


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A resenha do livro de hoje é um livro que tive que ler para a faculdade nesse 1º semestre: Vidas Secas. Com uma leitura simples e que flui de forma gostosa, ele nos envolve de tal maneira que não deixaria de compartilhar aqui com vocês.
Sem contar que Vidas Secas é um clássico da literatura brasileira e está presente na vida de todos os estudantes de Ensino Médio. Mas não devemos esquecer que Graciliano Ramos é conhecido como autor da Geração de 30, onde o país vivia a época da ditadura Vargas.
RESENHA:
O livro “Vidas Secas” de Graciliano Ramos retrata uma família do interior do Nordeste que foge da seca. Essa família é composta de cinco membros, o pai Fabiano, a mãe dona Sinha Vitória, os dois filhos pequenos e a cadela Baleia.
Propositalmente, os filhos não tem nome nessa história, toda hora os é mencionado como o filho mais novo e o filho mais velho. Isso porque Graciliano quis aproximar a várias vidas e pessoas que vivem como indigentes no interior do Nordeste. Pessoas essas famílias, esses retirantes, que vivem na margem da pobreza total, miseráveis.
O livro começa com a fuga da família da seca na catinga, no interior do Sertão Nordestino. Como também termina com eles fugindo da seca. É uma obra considerada desmontável, cada capítulo é como se fosse um conto, com princípio, meio e fim. Então pode ser lido de maneira independente e fora de ordem. Esses capítulos ainda trazem o ponto de vista de cada personagem.
 Fabiano era o pai da família. Homem muito simples, um verdadeiro bicho do mato, sem estudos e analfabeto. A todo o momento ele se indaga querendo saber falar bonito como Sr. Tomás da Bolandeira e o pessoal da cidade, mas tinha medo até de repetir certas palavras, pois como não sabia o que era, poderia virar algo contra ele. Ele queria dar uma vida melhor para sua família, desejava que a seca terminasse, e queria ser mais esperto e entender mais das coisas e do mundo para não ser passado para traz.
“Na verdade falava pouco. Admirava as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas era inúteis e talvez perigosas.” – Fabiano, Vidas Secas.
A cadela Baleia era como um membro da família. Brincava com os meninos e sempre fiel a família, possuía características humanas. A morte da cadela Baleia mostra o quanto ela simbolizava como uma criança ou bebê, que estava doente e Fabiano resolve sacrificá-la. Nesse momento, ela fica meio inquieta querendo saber o que aconteceu, onde está, só vê escuridão, não sente mais o cheiro dos preás, só queria dormir e acordar brincando com as crianças e num mundo cheio de preás.
“Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.”
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A seguir, a seca termina e eles encontram uma fazenda abandonada e resolvem se instalar por ali mesmo. Mas logo descobrem que essa fazendo tem dono, e Fabiano começa a trabalhar para ele senhor. Residem ali até que uma nova seca volta, e Fabiano com medo de ficar e morrer de fome e sede, resolve reunir a família e fugir novamente.
Graciliano quando escreveu Vidas Secas, escreveu com um narrador que fosse simples e seco. Assim, poderia transmitir ao leitor como era dura, seca e áspera a vida desses personagens. Essa família que pouco conversava entre si. Ao mesmo tempo esse narrador, vai de maneira simples nos mostrar os desejos mais íntimos de cada personagem. A principal característica de Vida Seca é um texto simples, com nenhum cunho sentimental e que consegue provocar no leitor tantos sentimentos.
 A relação estabelecida entre a obra e a história é a importância de contar sobre a vida de um homem popular, retirante, que vive na miséria e a margem da sociedade. Retrata a opressão vivida por essas pessoas na vida real perante a sociedade. A questão do latifúndio, de divisão de terras, muito para uns, pouco para outros. E a questão da seca que é cíclica no Nordeste, ela vai e vem, e com isso muitas famílias são obrigadas a reconstruir suas vidas e seu futuro, que muitas vezes é incerto.
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Por fim, deixo um trecho que Graciliano Ramos escreveu e se encontra no verso do livro e que quando li, me tocou profundamente. Sábias palavras.
“Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com a primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.”



RESUMO




VIDAS SECAS - Graciliano Ramos (Resumo)



CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

Os abalos sofridos pelo povo brasileiro em torno dos acontecimentos de 1930, a crise econômica provocada pela quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, a crise cafeeira, a Revolução de 1930 e o acelerado declínio do Nordeste condicionaram um novo estilo ficcional, notadamente mais adulto, mais amadurecido, mais moderno, que se marcaria pela rudeza, por uma linguagem mais brasileira, por um enfoque direto dos fatos, por uma retomada do naturalismo. Principalmente no plano da narrativa documental, temos também o romance nordestino, liberdade temática e rigor estilístico.
Os romancistas de 30 caracterizavam-se por adotarem visão crítica das relações sociais, regionalismo ressaltando o homem hostilizado pelo ambiente, pela terra, cidade, o homem devorado pelos problemas que o meio lhe impõe.
Graciliano Ramos (1892-1953) nasceu em Quebrângulo, Alagoas. Estudou em Maceió, mas não cursou nenhuma faculdade. Após breve estada no Rio de Janeiro como revisor dos jornais "Correio da Manhã" e "A Tarde", passou a fazer jornalismo e política, elegendo-se prefeito em 1927.

Foi preso em 1936 sob acusação de comunista e nesta fase escreveu "Memórias do Cárcere", um sério depoimento sobre a realidade brasileira. Depois do cárcere, morou no Rio de Janeiro. Em 1945, integrou-se no Partido Comunista Brasileiro.
Graciliano estreou em 1933 com "Caetés". Outro livro seu, "São Bernardo", é verdadeira obra prima da literatura brasileira. Depois vieram "Angústia" (1936) e "Vidas Secas" (1938), inspirados em Machado de Assis.

Podemos justificar isto com passagens do texto:
  • "Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos."
  • "A caatinga estendia-se de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas"
  • "Resolvera de supetão aproveitá-lo (papagaio) como alimento..."
  • "Miudinhos, perdidos no deserto queimado, os fugitivos agarraram-se, somaram as suas desgraças e os seus pavores."

 ESTUDO DOS PERSONAGENS
Baleia: cadela da família, tratada como gente, muito querida pelas crianças.
Sinhá Vitória: mulher de Fabiano, sofrida, mãe de dois filhos, lutadora e inconformada com a miséria em que vivem, trabalha muito na vida.
Fabiano: nordestino pobre, ignorante que desesperadamente procura trabalho, bebe muito e perde dinheiro no jogo.
Filhos: crianças pobres sofridas e que não têm noção da própria miséria.
Patrão: contratou Fabiano para trabalhar em sua fazenda, era desonesto e explorava os empregados.
Outros personagens: o soldado, seu Inácio (dono do bar).

ESTUDO DA LINGUAGEM

Tipo de discurso: indireto livre.
Foco narrativo: terceira pessoa.
Adjetivos, figuras de linguagem:
Metáfora: " - Você é um bicho, Fabiano."
Prosopopéia: compara Baleia com gente.

ANÁLISE DAS IDEIAS

Comentário Crítico:
Esse livro retrata fielmente a realidade brasileira. Não só da época em que o livro foi escrito, mas também nos dias de hoje, relatando situações como injustiça social, miséria, fome, desigualdade, seca, o que nos remete à ideia de que o homem se animalizou sob condições sub-humanas de sobrevivência.

RESUMO DA OBRA

Mudança
Em meio à paisagem hostil do sertão nordestino, quatro pessoas e uma cachorrinha se arrastam numa peregrinação silenciosa. O menino mais velho, exausto da caminhada sem fim, deita-se no chão, incapaz de prosseguir, o que irrita Fabiano, seu pai, que lhe dá estocadas com a faca no intuito de fazê-lo levantar. Compadecido da situação do pequeno, o pai toma-o nos braços e carrega-o, tornando a viagem ainda mais modorrenta.
A cadela Baleia acompanha o grupo de humanos agora sem a companhia do outro animal da família, um papagaio, que fora sacrificado na véspera a fim de aplacar a fome que se abatia sobre aquelas pessoas. Na verdade, era um papagaio estranho, que pouco falava, talvez porque convivesse com gente que também falava pouco.
Errando por caminhos incertos, Fabiano e família encontram uma fazenda completamente abandonada. Surge a intenção de se fixar por ali. Baleia aparece com um preá entre os dentes, causando grande alegria aos seus donos. Haveria comida. Descendo ao bebedouro dos animais, em meio à lama, Fabiano consegue água. Há uma alegria em seu coração, novos ventos parecem soprar para a sua família. Pensa em Seu Tomás da bolandeira.  Pensa na mulher e nos filhos.
A inesperada caça é preparada, o que garante um rápido momento de felicidade ao grupo. No céu, já escuro, uma nuvem - sempre um sinal de esperança. Fabiano deseja estabelecer-se naquela fazenda. Será o dono dela. A vida melhorará para todos.

Fabiano  

Em vão Fabiano procura por uma raposa. Apesar do fracasso da empreitada, ele está satisfeito. Pensa na situação da família, errante, passando fome, quando da chegada àquela fazenda. Estavam bem agora. Fabiano se orgulha de vencer as dificuldades tal qual um bicho. Agora ele era um vaqueiro, apesar de não ter um lugar próprio para morar. A fazenda aparentemente abandonada tinha um dono, que logo aparecera e reclamara a posse do local. A solução foi ficar por ali mesmo, servindo ao patrão, tomando conta do local. Na verdade, era uma situação triste, típica de quem não tem nada e vive errante.  Sentiu-se novamente um animal, agora com uma conotação negativa. Pouco falava, admirava e tentava imitar a fala difícil das pessoas da cidade. Era um bicho.
A uma pergunta de um dos filhos, Fabiano irrita-se. Para que perguntar as coisas? Conversaria com Sinhá Vitória sobre isso. Essas coisas de pensamento não levavam a nada. Seu Tomás da bolandeira, apesar de admirado por Fabiano pelas suas palavras difíceis, não acabara como todo mundo? As palavras, as ideias, seduziam e cansavam Fabiano.
Pensou na brutalidade do patrão, a tratá-lo como um traste. Pensou em Sinhá Vitória e seu desejo de possuir uma cama igual à de Seu Tomás da bolandeira. Eles não poderiam ter esse luxo, cambembes que eram. Sentiu-se confuso. Era um forte ou um fraco, um homem ou um bicho? Sentia, por vezes, ímpeto de lutador e fraqueza de derrotado.
Lembrando dos meninos, novamente, achou que, quando as coisas melhorassem, eles poderiam se dar ao luxo daquelas coisas de pensar. Por ora, importante era sobreviver. Enquanto as coisas não melhorassem, falaria com Sinhá Vitória sobre a educação dos pequenos.

Cadeia

Fabiano vai à feira comprar mantimentos, querosene e um corte de chita vermelha. Injuriado com a qualidade do querosene e com o preço da chita, resolve beber um pouco de pinga  na bodega de seu Inácio. Nisso, um soldado amarelo convida-o para um jogo de cartas. Os dois acabam perdendo, o que irrita o soldado, que provoca Fabiano quando esse está de partida. A ideia do jogo havia sido desastrosa. Perdera dinheiro, não levaria para casa o prometido. Fabiano, agora, pensava em como enganar Sinhá Vitória, mas a dificuldade de engendrar um plano o atormentava.
O soldado, provocador, encara o vaqueiro e barra-lhe a passagem. Pisa no pé de Fabiano que, tentando contornar a situação à sua maneira, aguenta os insultos até o possível, terminando por xingar a mãe do soldado amarelo. Destacamento à sua volta. Cadeia. Fabiano é empurrado, humilhado publicamente.
No xadrez, pensa por que havia acontecido tudo aquilo com ele. Não fizera nada, se quisesse até bateria no mirrado amarelo, mas ficara quieto. Em meio a rudes indagações, enfureceu-se, acalmou-se, protestou inocência. Amolou-se com o bêbado e com a quenga que estavam em outra cela. Pensou na família. Se não fosse Sinhá Vitória e as crianças, já teria feito uma besteira por ali mesmo. Quando deixaria que um soldadinho daqueles o humilhasse tanto? Arquitetou vinganças, gritou com os outros presos e, no meio de sua incompreensão com os fatos, sentiu a família como um peso a carregar.

Sinhá Vitória

Naquele dia, Sinhá Vitória amanhecera brava. A noite mal dormida na cama de varas era o motivo de sua zanga. Falara pela manhã, mais uma vez, com Fabiano sobre a dificuldade de dormir naquela cama. Queria uma cama de lastro de couro, como a de Seu Tomás da bolandeira, como a de pessoas normais.
Havia um ano que discutia com o marido a necessidade de uma cama decente e, em meio a uma briga por causa das "extravagâncias" de cada um, Sinhá Vitória certa vez ouviu Fabiano dizer-lhe que ela ficava ridícula naqueles sapatos de verniz, caminhando como um papagaio, trôpega, manca. A comparação machucou-a.
Agora, ela irritava-se com o ronco de Fabiano ao lembrar-se de suas palavras. Circulando pela casa, fazia suas tarefas em meio à reza e à atenção ao que acontecia lá fora. Por pensar ainda na cama e na comparação maldosa de Fabiano, quase esqueceu de pôr água na comida. Veio-lhe a lembrança do bebedouro em que só havia lama. Medo da seca. Olhou de novo para seus pés e inevitavelmente achou Fabiano mau. Pensou no papagaio e sentiu pena dele.
Lá fora, os meninos brincavam em meio à sujeira. Dentro de casa, Fabiano roncava forte, seguro, o que indicava a Sinhá Vitória que não deveria haver perigo algum por ali. A seca deveria estar longe. As coisas, agora, pareciam mais estáveis, apesar de toda a dificuldade. Lembrou-se de como haviam sofrido em suas andanças. Só faltava uma cama. No fundo, até mesmo Fabiano queria uma cama nova.

O menino mais novo 

A imagem altiva do pai foi que lhe fez surgir a ideia. Fabiano, armado como vaqueiro, domava a égua brava com o auxílio de Sinhá Vitória. O espetáculo grosseiro excitava o menor dos garotos, impressionado com a façanha do pai e disposto a fazer algo que também impressionasse o irmão mais velho e a cachorra Baleia. No dia seguinte, acordou disposto a imitar a façanha do pai. Para tanto, quis comunicar a intenção ao mano, mas evitou, com medo de ser ridicularizado.
Quando as cabras foram ao bebedouro, levadas pelo menino mais velho e por Baleia, o pequeno tomou o bode como alvo de sua ação. Sentia-se altivo como Fabiano quando montava. No bebedouro, o garoto despencou da ribanceira sobre o animal, que o repeliu. Insistente, tentou se aprumar mas foi sacudido impiedosamente, praticando um involuntário salto mortal que o deixou, tonto, estatelado ao chão. O irmão mais velho ria sem parar do ridículo espetáculo, Baleia parecia desaprovar toda aquela loucura. Fatalmente seria repreendido pelos pais. Retirou-se humilhado, alimentando a raivosa certeza de que seria grande, usaria roupas de vaqueiro, fumaria cigarros e faria coisas que deixariam Baleia e o irmão admirados.

O menino mais velho

Aquela palavra tinha chamado a sua atenção: inferno. Perguntou à Sinhá Vitória, vaga na resposta. Perguntou a Fabiano, que o ignorou. Na volta à Sinhá Vitória, indagou se ela já tinha visto o inferno. Levou um cascudo e fugiu indignado. Baleia fez-lhe companhia tentando alegrá-lo naquela hora difícil.
Decidiu contar à cachorrinha uma história, mas o seu vocabulário era muito restrito, quase igual ao do papagaio que morrera na viagem. Só Baleia era sua amiga naquele momento. Por que tanta zanga com uma palavra tão bonita? A culpa era de Sinhá Terta, que usara aquela palavra na véspera, maravilhando o ouvido atento do garoto mais velho.
Olhou para o céu e sentiu-se melancólico. Como poderiam existir estrelas? Pensou novamente no inferno. Deveria ser, sim, um lugar ruim e perigoso, cheio de jararacas e pessoas levando cascudos e pancadas com a bainha da faca. Sempre intrigado, abraçou-se à Baleia como refúgio.

Inverno

Todos estavam reunidos em volta do fogo, procurando aplacar o frio causado pelo vento e pela água que agitava a paisagem fora da casa. Chegara o inverno, e isso reunia a família próxima à fogueira. Pai e mãe conversavam daquele jeito de sempre, estranho, e os meninos, deitados, ficavam ouvindo as histórias inventadas por Fabiano, de feitos que ele nunca tinha realizado, aventuras nunca vividas. Quando o mais velho levantou-se para buscar mais lenha, foi repreendido severamente pelo pai, aborrecido pela interrupção de sua narrativa.
A chuva dava à família a certeza de que a seca não chegaria por enquanto. Isso alegrava Fabiano. Sinhá Vitória, porém, temia por uma inundação que os fizesse subir ao morro, novamente errantes. A água, lá fora, ampliava sua invasão.
Fabiano empolgava-se mais ainda em contar suas façanhas. A chuva tinha vindo em boa hora. Após a humilhação na cidade, decidira que, com a chegada da seca, abandonaria a família e partiria para a vingança contra o soldado amarelo e demais autoridades que lhe atravessassem o caminho. A chegada das águas interrompera aqueles planos sinistros. Em meio à narrativa empolgada, Fabiano imaginava que as coisas melhorariam a partir dali; quem sabe, Sinhá Vitória até pudesse ter a cama tão desejada.
Para o filho mais novo, o escuro e as sombras geradas pela fogueira faziam da imagem do pai algo grotesco, exagerado. Para o mais velho, a alteração feita por Fabiano na história que contava era motivo de desconfiança. Algo não cheirava bem naquele enredo. Sempre pensativo, o menino mais velho dormiu pensando na falha do pai e nos sapos que estariam lá fora, no frio.
Baleia, incomodada com a arenga de Fabiano, procurava sossego naquela paisagem interior. Queria dormir em paz, ouvindo o barulho de fora.

Festa

A família foi à festa de Natal na cidade. Todos vestidos com suas melhores roupas, num traje pouco comum às suas figuras, o que lhes dava um ar ridículo. A caminhada longa tornava-se ainda mais cansativa por causa daquelas roupas e sapatos apertados. O mal-estar era geral, até que Fabiano cansou-se da situação e tirou os sapatos, metendo as meias no bolso, livrando-se ainda do paletó e da gravata que o sufocava. Os demais fizeram o mesmo. Voltaram ao seu natural. Baleia juntou-se ao grupo.
Chegando à cidade, foram todos lavar-se à beira de um riacho antes de se integrarem à festa. Sinhá Vitória carregava um guarda-chuva. Fabiano marchava teso. Os meninos maravilham-se, assustados, com tantas luzes e gente. A igreja, com as imagens nos altares, encantou-os mais ainda. O pai espremia-se no meio da multidão, sentindo-se cercado de inimigos. Sentia-se mangado por aquelas pessoas que o viam em trajes estranhos à sua bruta feição. Ninguém na cidade era bom. Lembrou-se da humilhação imposta pelo soldado amarelo quando estivera pela última vez na cidade.
A família saiu da igreja e foi ver o carrossel e as barracas de jogos. Como Sinhá Vitória negou-lhe uma aposta no bozó, Fabiano afastou-se da família e foi beber pinga. Embriagando-se, foi ficando valente. Imaginava, com raiva, por onde andava o soldado amarelo. Queria esganá-lo. No meio da multidão, gritava, provocava um inimigo imaginário. Queria bater em alguém, poderia matar se fosse o caso. Vez ou outra, interrompia suas imprecações para uma confusa reflexão. Cansado do seu próprio teatro, Fabiano deitou no chão, fez das suas roupas um travesseiro e dormiu pesadamente.
Sinhá Vitória, aflita, tinha que olhar os meninos, não podia deixar o marido naquele estado. Tomando coragem para realizar o que mais queria naquele momento, discretamente esgueirou-se para uma esquina e ali mesmo urinou. Em seguida, para completar o momento de satisfação, pitou num cachimbo de barro pensando numa cama igual à de seu Tomás da bolandeira.
Os meninos também estavam aflitos. Baleia sumira na confusão de pessoas, e o medo de que ela se perdesse e não mais voltasse era grande. Para alívio dos pequenos, a cachorrinha surge de repente e acaba com a tensão. Restava, agora, aos pequenos, o maravilhamento com tudo de novo que viam. O menor perguntou ao mais velho se tudo aquilo tinha sido feito por gente. A dúvida do maior era se todas aquelas coisas teriam nome. Como os homens poderiam guardar tantas palavras para nomear as coisas?
Distante de tudo, Fabiano roncava e sonhava com soldados amarelos.

Baleia

Pelos caídos, feridas na boca e inchaço nos beiços debilitaram Baleia de tal modo que Fabiano achou que ela estivesse com raiva. Resolveu sacrificá-la. Sinhá Vitória recolheu os meninos, desconfiados,  a fim de evitar-lhes a cena.
Baleia era considerada como um membro da família, por isso os meninos protestaram, tentando sair ao terreiro para impedir a trágica atitude do pai. Sinhá Vitória lutava com os pequenos, porque aquilo era necessário, mas aos primeiros movimentos do marido para a execução, lamentou o fato de que ele não tivesse esperado mais para confirmar a doença da cachorrinha.
Ao primeiro tiro, que pegou o traseiro da cachorra e inutilizou-lhe uma perna, as crianças começaram a chorar desesperadamente.
Começou, lá fora, o jogo estratégico da caça e do caçador. Baleia sentia o fim próximo, tentava esconder-se e até desejou morder Fabiano. Um nevoeiro turvava a visão da cachorrinha, havia um cheiro bom de preás. Em meio à agonia, tinha raiva de Fabiano, mas também o via como o companheiro de muito tempo. A vigilância às cabras, Fabiano, Sinhá Vitória e as crianças surgiam à Baleia em meio a uma inundação de preás que invadiam a cozinha. Dores e arrepios. Sono. A morte estava chegando para Baleia.

Contas

Fabiano retirava para si parte do que rendiam os cabritos e os bezerros. Na hora de fazer o acerto de contas com o patrão, sempre tinha a sensação de que havia sido enganado. Ao longo do tempo, com a produção escassa, não conseguia dinheiro e endividava-se.
Naquele dia, mais uma vez Fabiano pedira a Sinhá Vitória para que ela fizesse as contas. O patrão, novamente, mostrou-lhe outros números. Os juros causavam a diferença, explicava o outro. Fabiano reclamou, havia engano, sim senhor, e aí foi o patrão quem estrilou. Se ele desconfiava, que fosse procurar outro emprego. Submisso, Fabiano pediu desculpas e saiu arrasado, pensando mesmo que Sinhá Vitória era quem errara.
Na rua, voltou-lhe a raiva. Lembrou-se do dia em que fora vender um porco na cidade e o fiscal da prefeitura exigira o pagamento do imposto sobre a venda. Fabiano desconversou e disse que não iria mais vender o animal. Foi a uma outra rua negociar e, pego em flagrante, decidiu nunca mais criar porcos.
Pensou na dificuldade de sua vida. Bom seria se pudesse largar aquela exploração. Mas não podia! Seu destino era trabalhar para os outros, assim como fora com seu pai e seu avô.
As notas em sua mão impressionavam-no. "Juros", palavra difícil que os homens usavam quando queriam enganar os outros. Era sempre assim: bastavam palavras difíceis para lograr os menos espertos. Contou e recontou o dinheiro com raiva de todas aquelas pessoas da cidade. Sinhá Vitória é que entendia seus pensamentos.
Teve vontade de entrar na bodega de seu Inácio e tomar uma pinga. Lembrou-se da humilhação passada ali mesmo e decidiu ir para casa. O céu, várias estrelas. Deixou de lado a lembrança dos inimigos e pensou na família. Sentiu dó da cachorra Baleia. Ela era um membro da família.

O Soldado Amarelo

Procurando uma égua fugida, Fabiano meteu-se por uma vereda e teve o cabresto embaraçado na vegetação local. Facão em punho, começou a cortar as quipás e palmatórias que impediam o prosseguimento da busca. Nesse momento, depara-se com o soldado amarelo que o humilhara um ano atrás. O cruzar de olhos e o reconhecimento durou fração de segundos. O suficiente para que Fabiano esfolasse o inimigo. O soldado claramente tremia de medo. Também reconhecera o desafeto antigo e pressentia o perigo.
Fabiano irritou-se com a cena. O outro era um nadica. Poderia matá-lo com as mãos, sem armas, se quisesse. A fragilidade do outro aos poucos foi aplacando a raiva de Fabiano. Ponderou que ele mesmo poderia ter evitado a noite na cadeia se não tivesse xingado a mãe do amarelo. No meio daquela paisagem isolada e hostil, só os dois, e se ele pedisse passagem ao soldado? Aproximou-se do outro pensando que já tinha sido mais valente, mais ousado. Na verdade, na fração de segundo interminável Fabiano ia descobrindo-se amedrontado. Se ele era um homem de bem, para que arruinar a sua vida matando uma autoridade? Guardaria forças para inimigo maior.
Sentindo o inimigo acovardado, o soldado ganhou força. Avançou firme e perguntou o caminho. Fabiano tirou o chapéu numa reverência e ainda ensinou o caminho ao amarelo.

O Mundo Coberto de Penas

A invasão daquele bando de aves denunciava a chegada da seca. Roubavam a água do gado, matariam bois e cabras. Sinhá Vitória inquietou-se. Fabiano quis ignorar, mas não pôde; a mulher tinha razão. Caminhou até o bebedouro, onde as aves confirmavam o anúncio da seca. Eram muitas. Um tiro de espingarda eliminou cinco, seis delas, mas eram muitas. Fabiano tinha certeza, agora, de uma nova peregrinação, uma nova fuga.
Era só desgraça atrás de desgraça. Sempre fugido, sempre pequeno. Fabiano não se conformava, pensava com raiva no soldado amarelo, achava-se um covarde, um fraco. Irado, matou mais e mais aves. Serviriam de comida, mas até quando? Quem sabe a seca não chegasse...Era sempre uma esperança. Mas o céu escuro de arribações só confirmava a triste situação. Elas cobriam o mundo de penas, matando o gado, tocando a ele e à família dali, quem sabe comendo-os.
Recolheu os cadáveres das aves e sentiu uma confusão de imagens em sua cabeça. Aquele lugar não era bom de se viver. Lembrou-se de Baleia, tentou se convencer de que não fizera errado em matá-la, pensou de novo na família e no que as arribações representavam. Sim, era necessário ir embora daquele lugar maldito. Sinhá Vitória era inteligente, saberia entender a urgência dos fatos.

Fuga

O céu muito azul, as últimas arribações e os animais em estado de miséria indicavam a Fabiano que a permanência naquela fazenda estava esgotada. Chegou um ponto em que, dos animais, só sobrou um bezerro, que foi morto para servir de comida na viagem que se faria no dia seguinte.
Partiram de madrugada, abandonando tudo como encontraram. O caminho era o do Sul. O grupo era o mesmo que errava como das outras vezes. Fabiano, no fundo, não queria partir, mas as circunstâncias convenciam-no da necessidade.
A vermelhidão do céu e o azul que viria depois assustavam Fabiano. Baleia era uma imagem constante em seus confusos pensamentos. Sinhá Vitória também fraquejava. Queria, precisava falar. Aproximou-se do marido e disse coisas desconexas, que foram respondidas no mesmo nível de atrapalhação.

Na verdade, ele gostou que ela tivesse puxado conversa. Ela tentou animar o marido, quem sabe a vida fosse melhor, longe dali, com uma nova ocupação para ele. Marido e mulher elogiam-se mutuamente; ele é forte, aguenta caminhar léguas, ela, tem pernas grossas e nádegas volumosas, aguenta também. A cidade, talvez, fosse melhor. Até uma cama poderiam arranjar. Por que haveriam de viver sempre como bichos fugidos?
Os meninos, longe, despertavam especulações ao casal. O que seriam quando crescessem? Sinhá Vitória não queria que fossem vaqueiros. O cansaço ia chegando à medida que avançava a caminhada, e assim houve uma parada para descanso. Novamente marido e mulher conversavam, fazendo planos, temendo o mau agouro das aves que voavam no céu.
Sinhá Vitória acordou os pequenos, que dormiam, e seguiu-se viagem. Fabiano ainda admirou a vitalidade da mulher. Era forte mesmo! Assim, a cada passo arrastado do grupo um mundo de novas perspectivas ia sendo criado. Sinhá Vitória falava e estimulava Fabiano. Sim, deveria haveria uma nova terra, cheia de oportunidades, distante do sertão a formar homens brutos e fortes como eles.






80 ANOS DE VIDAS SECAS :

O RETRATO DO NORDESTE PINTADO POR GRACILIANO RAMOS



Vidas Secas, um dos romances mais celebrados e estudados de nossa literatura, completa 80 anos. Verdadeiro patrimônio da cultura brasileira, a obra conjuga denúncia com a investigação profunda da alma de miseráveis situados no grau zero da escala social, ali onde os limites que separam o ser humano da animalidade são imprecisos. 
Escrito pelo alagoano Graciliano Ramos (1892-1953), o romance narra a trajetória de uma família de retirantes em busca de alguma estabilidade na vida. Cada capítulo é uma espécie de quadro independente em que se mostram diferentes aspectos da miséria sertaneja. Os pobres são carentes de tudo; são rudes, sem a mínima sofisticação. Em uma das cenas mais tocantes, Fabiano, o pai da família, chega a pensar em abandonar o filho desfalecido em meio à caatinga. Era uma forma de prosseguir a viagem penosa. Contudo, tocado pelo sentimento de proteção, acaba por levar o menino nos braços. 
Naquele ambiente inóspito, ser um homem bruto é ter capacidade de resistir. "O sertanejo é antes de tudo um forte" — já dissera Euclides da Cunha a respeito de pessoas como Fabiano. Resistir às imposições da natureza, mas, também, resistir a uma estrutura social que se compraz em explorar os que mal sabem falar para lutar pelos seus direitos. Em sua ignorância, Fabiano chega a perceber a força das palavras. Embora forte como um bicho, ele se sente fraco e desprotegido diante de um patrão que o engana e de um soldado que o oprime. 
Assim, a pessoas como ele só resta a condição de animalidade. O leitor imediatamente encontrará uma relação com o zoomorfismo, característica comum aos romances de tese oitocentistas. Mas há aqui uma clara diferença: no romance de tese, a animalidade atinge a todos, sejam ricos ou pobres. Todos agem apenas para saciar os seus instintos. Já em Vidas Secas, a animalização do homem tem um caráter de denúncia social, atingindo apenas os miseráveis. Ela demonstra como uma parcela da população brasileira estava relegada à condição de bichos, completamente esquecida pelas autoridades. Vidas Secas tem o mérito de mostrar que, apesar de parecerem bichos, Fabiano e sua família são gente. É um belo propósito humanista. O narrador em terceira pessoa mostra sutilmente que aqueles retirantes apresentam um rico mundo interior, cheio de sonhos, de indignação e de memórias. 
Comemorar oitenta anos dessa obra é lembrar que, em quaisquer condições, o ser humano deve manter acesa a chama de sua dignidade. É lembrar como boa literatura pode ser feita sem literatice, sem apelar para um estilo grandioso e oco. Vidas secas é enxuto: com poucos elementos, consegue uma enorme gama de efeitos estéticos. Enfim, lembrar a data é uma forma de trazer à consciência que os "Fabianos" (de ontem, de hoje e de sempre) são seres morais, e não deixam de carregar em si o brilho da Humanidade que faz de cada pessoa um ser único e infinito. 


Página do primeiro capítulo de "Vidas Secas", "Baleia", escrito por Graciliano em  Maio de 1937.
Pertence à Coleção do Instituto de Estudos Brasileiros da USP (IEB).



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